Esse foi um projeto realizado por uma parceria entre o grupo e meu projeto de Doutorado em Poéticas Visuais da Escola de Comunicações e Artes da USP. Segue abaixo mais informações sobre o projeto.
Intransferência é um projeto de artemídia que continua em processo. Busca intervir no espaço da cidade construindo uma situação em um entorno com fluxo intenso de pedestres. O projeto tematiza a biotecnologia enquanto dispositivo capitalista de conversão “de algo que tinha de direito um valor ambiental em algo que pode ter de fato um valor econômico” (SANTOS, 2003, p. 25).
Em Intransferência, a montagem desse dispositivo teleinformático permitirá analisar virtualmente a composição química elementar de cada transeunte em circulação na frente do prédio corporativo a partir do peso individual. Com esse montante, será possível calcular o número de passantes por dia, seu peso individual e total, dividir o resultado pelas percentagens dos elementos químicos presentes no corpo, para convertê-los em gramas. Paralelamente, esse conjunto de dados será cruzado com os dados de valor das commodities no mercado internacional, atualizados na tela eletrônica, bem como no site do projeto. Ao final do dia, após o fechamento da bolsa e o encerramento da captura de dados, infográficos com leituras comparativas entre os fluxos do mercado e dos transeuntes serão projetados no prédio ou nos displays da montagem.
A criação do design de interface dos aplicativos e do site dar-se-á em conjunto com especialistas nas áreas do design, da arte, da informática e da economia, originando uma transversalidade de conhecimentos, que permitirá tanto a programação quanto a visualização das informações coletadas e entrecruzadas. O grupo Hardware Livre USP está participando em parceria. Atualmente, o projeto se encontra na etapa de pré-produção e programação básica. A partir desses encontros, redefinir-se-ão tecnicamente os processos executivos.
Pensava-se em usar sensores de movimento e altura como dispositivos de medição da massa corporal e contagem de transeuntes, mas esta variável não aportava mais elementos relevantes do que os que tínhamos na captura e análise dos dados determinados apenas pelo peso, único dado biométrico que dava conta da quantidade (do material) e da presença (da singularidade), e que funcionaria, por sua vez, como contador das pessoas que passam pela balança.
A captura e a conversão de dados serão visualizadas em forma de infográficos e metáforas visuais, em tempo real, tanto nos displays instalados quanto na internet. A interação do público, aparentemente mínima, tem a função de produzir informação a partir da presença física dos indivíduos no espaço determinado para a medição, sem a qual a obra não se executa. O corpo humano é o elemento que catalisa a coleta de dados, bem como os cruzamentos entre os índices biométricos e os indicadores das commodities. Opta-se por fazer uso do Arduino para o envio da informação da balança para o servidor, e por utilizar a biblioteca D3.js de Javascript ou a linguagem Processing para fazer os cálculos das distintas variáveis, em tempo real, produzindo os diagramas correspondentes, que serão enviados ao site e aos monitores da montagem.
As operações poéticas realizadas na Situação partem da tradução constante dos fluxos e das massas corporais dos pedestres em pesos e porcentagens de elementos químicos, os quais, por sua vez, são traduzidos em valores do capital financeiro. Assim, a situação faz evidente a transfiguração do ser humano em dados objetivos e numéricos, tornando visível um processo em que os corpos dos passantes, seus movimentos e sua presença, transformam-se em pesos e vetores. Essa espécie de esquadrinhamento do indivíduo em termos matemáticos, químicos e econômicos, faz com que ele seja cartografado na transdução da infografia.
A tese completa pode ser encontrada aqui.
Abaixo temos algumas fotos do projeto e do material usado para o mesmo: